***** ANTROPOLOGIA *****


Etimologicamente, a antropologia é a ciência que estuda o homem ou a humanidade em geral. De há dois séculos até á actualidade, esta palavra tem tomado sentidos diferentes e aplica-se a realidades diversas. Antes do século XIX, incidia sobretudo na unicidade e na especificidade do homem em relação aos outros animais (o Tratado de Antropologia de Kant é não mais do que um tratado de psicologia humana). Por meados do século XIX, certos sábios insistem , pelo contrário, no carácter natural da espécie humana e sobre as suas diferenciações físicas e psíquicas. Após diversas evoluções de conteúdo e de sentido do termo "antropologia", conforme as escolas e por vezes conforme os autores, é possível distinguir alguns domínios mais importantes estudados por esta disciplina "polivalente".
A antropologia física estuda o homem fóssil ou actual nas suas características anatómicas, fisiológicas e raciais, tanto do ponto de vista da sua evolução zoológica como das suas diferenciações geográficas. Engloba dimensões muito variadas que vão da paleontologia humana à antropologia psicobiológica dos grupos actuais.
A antropologia social aplica-se sobretudo à observação das técnicas, usos, costumes, crenças, regras de conduta e de comportamento de um determinado grupo social.
A antropologia filosófica é uma disciplina filosófica, extensa e não muito definida, que procura conferir ao estudo filosófico do homem e do lugar que este ocupa no mundo uma base científica, coordenando a filosofia com a biologia e com a psicologia.

Castros






Os Castros
A origem dos castros, antigos povoados estrategicamente implantados a grandes altitudes, privilegiando de boas condições naturais de defesa e visibilidade e próximos de linhas de água, remontam ao final da Idade do Bronze, cerca de 1000 anos a. C.Inicialmente, as estruturas habitacionais eram cabanas de madeira e colmo. Mais tarde, casas feitas de pedra, de planta circular, quadrangular ou rectangular (o que para alguns arqueólogos é sinónimo de influência romana), passaram a ser o espaço ocupado por estas populações - fruto do decorrer dos tempos e da evolução das técnicas de construção. Entre outros, o granito é o material mais usado nestas construções.A criação de gado, a recolecção, o artesanato e uma agricultura ainda incipiente, eram algumas das actividades a que se dedicavam estas comunidades, sendo especificamente do foro do homem a caça, a guerra e os trabalhos metalúrgicos. No que concerne à religião, vários deuses relacionados com a guerra e as forças da natureza eram adorados por estes povos.Alguns castros são abandonados ainda durante a Idade do Ferro, contudo, em maior ou menor escala, muitos são os que sofrem a acção da romanização. Muitos destes povoados mantiveram, mesmo, um nível de ocupação durante a Idade Média.
Segundo Jorge de Alarcão «aos castros, deram os Romanos o nome de castella, que aparece nas inscrições do século I d.C. sob a forma abreviada de um C invertido [...]»
*** Os Castros (Wikipédia)
Castro são as ruínas ou restos arqueológicos de um tipo de povoado da Idade do Ferro característico das montanhas do noroeste da Península Ibérica, na Europa. Os povoados eram construídos com estruturas predominantemente circulares, revelando desde cedo a implementação de uma «civilização da pedra», quer nas zonas de granito quer nas de xisto.
Uma cividade (substantivo feminino antigo de cidade) ou Citânia é um castro de maiores dimensões e importância, habitado continuamente. A designação Citânia é comparado com o "Cytian" dos povoados fortificados nas ilhas Britânicas.
Durante muito tempo consideraram-se os castros como "povoados fortificados", mas esta designação, consagrada pelo uso, é evidentemente muito redutora, porque recobre realidades arqueológicas muito diversas e susceptíveis de variadíssimas interpretações. Recentemente, tem-se vindo a aperceber que estes sítios são de uma enorme a complexidade, que de maneira alguma se podem apenas subsumir numa qualquer "cultura" local (ou várias), e muito menos numa "função" militar.
Arqueologia
Os castros estão quase invariavelmente localizados no topo de montes que são defesas naturais e permitem o controle táctico dos campos em redor. Estes montes tinham sempre fontes ou pequenas ribeiras, e naqueles mais desprovidos de água eram construídos reservatórios pelas populações, provavelmente para resistir aos cercos.
Um castro típico é fortificado por uma até quatro muralhas, mas mais comummente três, que complementam as defesas naturais do sítio. As casas têm cerca de três a cinco metros de diâmetro, e são na sua maioria circulares com algumas rectangulares, feitas de pedra solta e terra, com telhado cónico de colmo suspenso por um pilar de madeira central. As ruas são algo regulares, sugerindo organização social avançada. Os castros variam de algumas dezenas a algumas centenas de metros em diâmetro.
Julga-se que os castros eram locais de refúgio durante as guerras tribais Célticas e pré-Célticas, mas muitos, incluindo todas as citânias, eram verdadeiros centros populacionais continuamente habitados.

História
Castros já existiam durante o Neolítico e a Idade do Bronze, muito antes das invasões Célticas. Julga-se que a Cultura Ibérica desses povoados se misturou com os elementos célticos sem quebras de continuidade. O Céltico, provavelmente o dialecto Goidélico, tornou-se a lingua franca de toda a Cultura Atlântica. Muitos dos megalitos da Idade do Bronze como menires e dólmenes estão situados em regiões em que também há castros, e são anteriores aos Celtas quer em Portugal e na Galiza, quer na costa atlântica da França, Grã-Bretanha e Irlanda. Estes monumentos continuaram a ser utilizados pelos druidas celtas.
Os Romanos destruíram muitos castros, devido à resistência feroz dos povos castrejos ao seu domínio, mas alguns foram aproveitados e expandidos como cidades romanas. Segundo Jorge de Alarcão "Aos castros, deram os Romanos o nome de castella, que aparece nas inscrições do século I d.C. sob a forma abreviada de um C invertido[...]"
Localização
A zona nuclear castreja corresponde a toda a Galiza e à região portuguesa de Entre-Douro-e-Minho que confina a leste com a área ocupada na antiguidade pelos povos da etnia Zoelae para além do rio Sabor.
Existe uma grande densidade de castros no Alto Minho, em especial nos territórios dos concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Paredes de Coura, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Esposende.
No entanto, na bacia do Ave-Vizela existe um maior conjunto de castros de grande dimensão: a Citânia de Sanfins, Citânia de Briteiros, Cividade de Bagunte, o Castro de Alvarelhos e ainda nas proximidades a Cividade de Terroso.
Menos densas são a região de Basto e ainda menos densa é a planície litoral a Sul do Douro. Em Trás-os-Montes, existe uma concentração significativa nas zonas de terras altas, com altitude superior a 750 metros, nos concelhos de Montalegre, Boticas e parte dos concelhos de Vinhais e Bragança.
Novas perspectivas sobre a celtização do NO de Portugal e o território dos Callaeci Bracari valorizam características culturais e linguísticas de filiação céltica no substrato castrejo, ainda com forte expressão durante o período galaico-romano (inscrição da Fonte do Ídolo em Braga e o nome da cidade galaico-romana de Tongóbriga).
Também há alguns castros no Centro de Portugal e nas Astúrias (região de Espanha). Povoados semelhantes também foram encontrados na França Atlântica (Bretanha), Grã-Bretanha e Irlanda.

Estruturas muradas
Observam-se normalmente cinco tipos diferentes de muros castrejos:
Muralha de alinhamento, espessura e aparelho irregulares constituída or camadas de pedras colocadas horizontalmente, como ocorre no Castro do Coto da Pena.
Muralha espessa com duas faces regularizadas de grandes blocos preenchidos por um aglomerado de pedras sem argamassada, como ocorre no Castro de Sabroso.
Uma grande construção constituída por dois muros paralelos de faces verticais, normalmente de grandes blocos dispostos irregularmente, com intervalo preenchido por terra, tal como acontece na Cividade de Terroso.
Construção sólida com muros de reforço adossados tal como ocorre no Castro de Romariz.
Muralha simples com espessura média de 1,50 metros, normalmente formada por dois paramentos paralelos, tal como ocorre na Citânia de Briteiros.

Fases
A cultura castreja formou-se num contexto atlântico com relações continentais e mediterrânicas por volta do ano 900 a.C.
A segunda fase inicia-se por volta de 500 a.C. e desenvolve-se com as migrações túrdulas, o comércio púnico e as primeiras importações provenientes da Península Itálica. É igualmente a fase da chegada de elementos étnicos célticos cujos contornos cronológicos e históricos devem ser entendidos no âmbito dos diversos processos regionais de celtização peninsular.
A terceira fase é a da proto-urbanização da cultura castreja com apogeu e declínio na era da romanização.

Candidatura a património mundial
Os castros do Noroeste de Portugal e Galiza serão conjuntamente avaliados pela UNESCO para serem candidatos a património mundial. Entre as 7 mil ruínas de castros galaicos, seis foram seleccionados por reunirem condições para a candidatura e serão posteriormente avaliados por inspectores da UNESCO.
Estes são:
Candidatos da linha da frente a serem avaliados pela UNESCO:
Castro Monte Mozinho - Penafiel
Castro Romariz - Santa Maria da Feira
Citânia de Briteiros - Guimarães
Citânia de Sanfins - Paços de Ferreira
Cividade de Terroso - Póvoa de Varzim
Castros na linha da frente (um deles ou ambos):
Castro de São Lourenço - Esposende
Citânia de Santa Luzia - Viana do Castelo
Castros candidatos à linha da frente:[1]
castro do Pópulo - Alijó
Castro de Palheiros - Murça
Até 2010, por altura da formalização da candidatura, espera-se que este número chegue às duas dezenas.

Ver também
Berrão
Cultura castreja
Draganos
Geografia romana em Portugal
Lista de castros
Lista de castros de Portugal
Pedra Formosa

Referências
Coelho Ferreira da Silva, Armando- A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, 1986
Alarcão, Jorge de- Populi, Castella e Gentilitates. Revista de Guimarães. Volume Especial, I, Guimarães, 1999. Casa de Sarmento.
COSTA, Ricardo da. "52. A cultura castreja (c. III a.C. - I d.C.): a longa tradição de resistência ibérica", em Revista Outros Tempos, São Luís, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), volume 3, 2006 (ISSN 1808-8031), p. 37-58.
Coutinhas, José Manuel - "Callaeci Bracari - aproximação à identidade etno-cultural". Porto. 2006.
Guimarães Apontamentos para a sua História. Padre António José Ferreira Caldas.2.ª Edição, Guimarães, CMG/SMS, 1996, parte I, pp. 240/243

Referências
http://jn.sapo.pt/2007/01/17/norte/castro_podera_patrimonio_mundial.html

Ligações externas
Les castros vettons et leurs populations au Second Âge du Fer
Guia de Castros da Galiza e o Norte de Portugal
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Castro"
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ROTA DOS CASTROS (FUNDÃO)

Castro da Cabeça Gorda(Alcaria/Peroviseu)

História-Referido por Martins Sarmento na sua «Expedição Científica à Serra da Estrela» (1881) foi no entanto estudado recentemente por Raquel Vilaça. Espaço que compreende aglomerados graníticos de grandes dimensões, são visíveis alguns troços de muralhas e alinhamentos de pedra correspondentes, talvez, a antigas construções. Mós manuais e cerâmica inserem este castro no Bronze Final/Ferro inicial.
Como Chegar-Tomando a direcção de Freguesia de Peroviseu, cortar junto ao acesso à Central de Compostagem (Quinta das Areias). Seguindo a sinalética, tome-se o caminho que circunda esta unidade de tratamento de resíduos sólidos urbanos até se atingir o ponto indicado in situ.
O Percurso-Assim que se começa a subir em direcção ao Castro, temos, junto à estrada a importante estação romana da Quinta da Boutocela, com vestígios ainda da Alta Idade Média, concretamente duas sepulturas escavadas na rocha.Como alías era habitual, o castro ocupa uma posição privilegiadíssima, dominando, pelo Norte, a Cova da Beira.

Castro do Vale Feitoso(ou da Quinta da Samaria)( Peroviseu)

História-Castro identificado em 2002. Apresenta, pelo menos, dois níveis de muralhas. O povoado de uma mutilação recente, com a passagem de máquinas para abertura de caminhos. Por todo o povoado são visíveis vários alinhamentos de pedra, alguns deles correspondentes a construções. A cerâmica disseminada em grande cópia cerâmica de fabrico manual, sobretudo a «cepilhada» e brunida.Engenhos de moagem também aí se encontram com frequência. Muitas lendas se ligam a este castro: os populares falam da descoberta de potes com moedas de ouro…Digna de registo é a curiosa «Laje das cruzes», um rochedo que assinala os limites dos Concelhos do Fundão e da Covilhã e que apresenta para cima de uma trintena de inscrições cruciformes. Todavia, uma inscrição rupestre romana constitui o elemento histórico mais interessante do povoado.
Como Chegar -Uma vez em Peroviseu tomar a direcção da Serra no Largo do Chafariz seguindo a indicação da sinalética. Já na cumeada cortar na primeira encruzilhada pelo caminho da esquerda. Medeiam cerca de 2 KM até ao povoado.
O Percurso-A Serra das Ferrarias ou do Ferro, exibe um raro panorama paisagístico, quer para a Cova da Beira, a Sul, quer para a Serra da Estrela, da banda oposta.Inúmeros aglomerados de penedias graníticas, algumas das quais verdadeiramente colossais, constituem uma apreciável característica orográfica da Serra.

Castro das Tapadas das Argolas(Capinha)
História-Referido nas fontes escritas desde 1758 - «antiga fortificação» - o castro da Tapada das Argolas é a estação castreja de onde tem provindo maior numero de materiais arqueológicos, desde machados de bronze a pontas de seta. As estruturas defensivas do povoado coexistem com outros alinhamentos de pedra.Não há muito tempo, ainda eram visíveis restos de edifícios de planta circular.Dos artefactos aparecidos neste povoado para além dos machados de bronze – é de destacar uma ponta de seta de «tipo Palmela», uma faca para couro («Tranchet»), uma lâmina de espada em bronze e uma espada em ferro.A cronologia da tapada das Argolas aponta para finais do II Milénio a.C./ inícios do I Milénio a.C.
Como Chegar-À entrada da Capinha cortar em direcção à barragem. Seguir as indicações da sinalética.
O Percurso- De acesso algo difícil, já a meia encosta do monte se vislumbra um agradável cenário natural, que se torna particularmente belo no topo do povoado, com a Barragem da Capinha ao fundo, com o seu parque de merendas.

Castro dos Três Povos
História-Povoada referido já por Martins Sarmento, ocupa uma excelente posição estratégica que permitia dominar as férteis terras que marginam a Ribeira da Meimoa e bem assim alcançar a Gardunha e a Serra de Marta. Apresenta resquícios de muralhas e, dispersa, alguma cerâmica atribuível ao Bronze Final. O castro foi romanizado encontrando-se no Museu Arqueológico José Monteiro artefactos provenientes desta estação.
Como Chegar-Na freguesia de Escarigo seguir a indicação da sinalética. O Acesso ao castro é particularmente difícil.
O Percurso-As povoações de Salgueiro, Quintas e Escarigo, cujo conjunto assumiu secularmente o designativo colectivo de Três Povos. Encetar o percurso que leva até à última dessas localidades pressupõem uma visita a cada uma dessas pitorescas localidades, ricas em cultura popular e edificações históricas.

Castro da Covilhã Velha(Enxames/Vale Prazeres)
História-O castro da Covilhã Velha possui grandes derrubes de muralhas que atestam a complexidade da sua estrutura defensiva. Os testemunhos escritos mais antigos sobre este povoado remontam a 1866, ano em que José Germano da Cunha se referiu a um edifício acastelado derruído. O mesmo autor, anos volvidos (1822), fala da existência aí de «fossos» e «vestígios de ruas».Os artefactados recolhidos neste castro, datável do Bronze Final / Idade do Ferro, não sendo abundantes são no entanto significativos. Crespo de Carvalho aventa a hipótese (muitíssimo remota, diga-se) de se ter localizado aqui a cidade lusitana de Cingínia (referida por Valério Máximo). Um soberbo capitel de coluna prova a romanização desta estação, que conheceu alias uma ocupação humana até ao período medievo.
Como Chegar-Rumando à freguesia de Enxames tome-se o sentido de Póvoa da Palhaça.Sensivelmente a meio caminho, inflicta-se seguindo a indicação das placas. Alternativa: Pela freguesia de vale Prazeres em direcção a Póvoa da Palhaça. Virar à esquerda na rotunda que antecede essa localidade.
O Percurso-A serra das casinhas, ou Cruzinhas, onde se acha implantado o castro é um magnifico mirante para a pequena planície onde demora a Torre dos Namorados, terras de lendas e encanto, que guarda uma das mais ricas estações romanas da região
***** MUNICIPIO DE CHAVES *****
CASTRO DE CURALHA
Zona povoada desde a pré-história, o concelho de Chaves é rico em vestígios dessa época. Além das necrópoles, abundam as demonstrações de arte rupestre.Mais significativos, porém, são os vestígios da ocupação celta deste território flaviense, o qual muito recebeu em herança daquele povo. Existem dezenas de castros de origem celta, espalhados por morros e colinas, aqui e ali.No entanto,o melhor conservado é o Castro de Curalha. De todos os castros do concelho, é aquele cujas escavações e reconstruções foram mais completas e cuidadas, tornando-se, por isso, uma visita obrigatória.
Fica a cerca de 400 metros de altitude, numa colina visível de muitos quilómetros em volta. Dista cerca de meio quilómetro de Curalha, aldeia atravessada pela Estrada Nacional nº 103 (de Chaves a Braga), a 7 quilómetros da capital do Alto Tâmega, fazendo-se o acesso, da Nacional ao castro, por estrada de terra. Está próximo do rio Tâmega, embora bastantes metros elevado, e está actualmente povoado por pinheiros e carvalhos.O castro, instalado no topo de um morro, está dominado por um enorme pinheiro manso. Em volta dele há casas, semi-construídas ou pelo menos visíveis nas suas fundações. Rodeando estas construções, foi descoberta uma primeira cintura de muralhas, com um perímetro de cerca de 240 metros.Toda ela se encontra visível, porque foi parcialmente reconstruída. De espessura, tem entre 2 e 3 metros. É atravessada por 3 portas. Além desta cintura existem outras, num total de pelo menos cinco. Destas, a segunda e a terceira também estão parcialmente descobertas e reconstruídas. Quanto às casas do seu interior, merecem especial menção duas: uma delas, mais elevada que as outras, construída sobre os rochedos do topo, poderia ter sido a habitação do chefe do clã deste castro; outra, de maiores dimensões, supõe-se ter sido uma casa de utilização colectiva, uma vez que fica em zona central. Esta poderá ter sido a casa de reunião do conselho dos ansiãos ou, de acordo com outras opiniões, a casa onde se reunia a juventude da aldeia, a quem ali era ministrada educação. Por toda a área têm aparecido pedaços de cerâmica, alguns dos quais romanos, o que faz concluir que este castro da Idade do Ferro foi mais tarde ocupado pelos romanos, que o romanizaram.O actual estado de conservação do monumento é o resultado das campanhas de escavações que decorrem anualmente, em Setembro, desde 1974, as quais foram inicialmente orientadas pelo Professor Dr. Santos Júnior e pelo Dr. Francisco Carneiro (ambos já falecidos); são agora pelo Dr. Adérito Medeiros Freitas. No entanto, o primeiro a tratar o castro de Curalha foi o Dr. António Júlio Gomes.
***** CONIMBRIGA - UM CASTRO NO SEU INICIO *****

O Sítio de Conímbriga, que teria sido habitado desde o Neolítico, tem presença humana segura no Calcolítico e na Idade do Bronze, épocas originárias dos testemunhos mais antigos que até nós chegaram. É certo que os Celtas aqui estiveram: os topónimos terminados em “briga” são testemunho claro dessa presença. Conímbriga era portanto um castro quando os Romanos em 138 a.C. aqui chegaram e se apoderaram do oppidum.
**** VILA FLOR - Bragança ****
Castros - lugar fortificado das épocas pré - romanas, na Península Ibérica, que era um povoado permanente ou apenas refugio das povoações circunvizinhas em caso de perigo.
Segundo Joaquim Maria Neto (1975) existem no concelho de Vila Flor sete castros identificados e dois não identificados.Estes castros localizam-se (segundo a mesma fonte) nas freguesias de:
Freixiel (considerado no PDM de Vila Flor como imóvel de interesse público) castro de Freixiel ,"constituído por seis muralhas...;já é considerado por distintos arqueólogos coisa fora do vulgar no tamanho e nos seus achados" (Vide Mensageiro de Bragança de 21/09/69).
Sampaio - Há o castro de "Santa Marinha"(504 - XXXV Grande Enciclopédia de Português e Brasileiro) que foi um fortificado castrejo.
Macedinho - Há vestígios de fortes muros (Alves, 1982 IX 153 - 576).Antigo castro fortificado, mais tarde romanizado. Existem imensos vestígios de fortes muros feitos em pedra miúda de xisto, restos de tégulas, imbrices e louça comum romana.(Morais, 1992).
Vale Frechoso - "Há no seu termo o topónimo castelo" (Alves, 1982 IX 156)
Vale de Torno «no sítio do cabeço murado, encontra-se um castro de que restam vestígios de uma linha de muralhas (Morais 1992).
Vila Flor - "Fortificações castrejas existem no alto do facho, ao nordeste de Vila Flor, chamado o castro do facho" (504 - XXXV Grande Enciclopédia de Português e Brasileiro e (511 - Id.)
Vilas Boas "Há dois grandes cabeços onde se tem encontrado ruínas de casas e de fortificações..."São o cabeço de Nossa Senhora da Assunção (delta 728) e o cabeço do Faro (11 e 12 - XXXVI G.E.P.B
Lodões - Castro de São Pedro: Povoado fortificado sobranceiro ao Vale da Vilariça, com evidentes vestígios de romanização (Morais 1992).

A propósito de castros
Francisco Martins Sarmento
O Panorama Contemporâneo, Coimbra, 1883-84 — 1.º págs. 9, 17 e 25

Há dias, um amigo meu presenteou-me com dois números do
Progresso, chamando a minha atenção para um escrito que aí vinha,
Quatro dias na Serra da Estrela, e especialmente para a parte do
escrito, em que; depois de falar da descoberta dum castro no alto do
Buçaco e de entrar em algumas considerações acerca dos castros do
nosso país, o autor, o sr. E. N., me fazia entrega do referido castro (o
do Buçaco) para os sobreditos efeitos (a sua exploração) Agradecendo
muito deveras as benévolas expressões que o sr. E. N. me dirige, eu
vou dizer a razão por que me não apresso, a aceitar a sua generosa
oferta, aproveitando a ocasião para também por minha Vez dissertar
um pouco sobre os castros.
Eu nunca iria explorar, nem mesmo examinar o castro do
Buçaco, se se tratasse de aclarar o problema que o sr. E. N. propõe
discussão — a unidade de civilização dos antigos galegos e dos antigos
lusitanos, porque esse facto não é para mim um problema novo, mas
um dogma velho. Se o exame dos castros fosse necessário para
robustecer esta crença, eu tenho visto castros bastantes, para dever
supor que a minha fé não é precisamente a fé de carvoeiro. Vou porém
dar a lista dos que tenho visitado até hoje, para que o sr. E. N. julgue
por si mesmo:
Castião de Vilar de Mouros; — Castro de Riba de Âncora; —
Castro de Mouros (Âncora); Castro de Areosa; — Castro de Nossa

Senhora do Castro (Neiva); — Castro de Nabais; — Castro de
Santagões; — Castro da Retorta; — Castro de Santo Ovídio, não longe
do convento de Vairão; — Castro de Macieira da Maia; — Castro de
Alvarelhos; — Castro de Oliveira (concelho de Famalicão); — Castro de
Prazins (concelho de Guimarães); — Castro de Sobreposta; — Castro
de Francoim (Felgueiras).
Desde que vi o primeiro monte com o nome de castelo,
desenganei-me logo que os castros e castelos se parecem como duas
gotas de água. Fui examinando pois: — Castelo de Neiva; — Castelo
de Casais (Junqueira); — Castelo de Guifões, que os naturais chamam
Castelo — Castelo de Vermoim. Entre os castros, castelos e cividades
(às vezes cidades) não há outras diferenças, senão as de dimensões, e
nem sempre. Fui por isso examinando com a mesma atenção: —
Cidade do Cossourado (Paredes de Coura); — Cividade de Âncora;
Cividade de Terroso (concelho da Póvoa de Varzim); Cividade de
Bagunte; Cividade de Refojos de Basto. Mas a grande maioria das
nossas estações pré-históricas, pertencendo aliás a qualquer das
categorias atrás mencionadas, perderam mesmo o seu nome genérico
e só podem ser designadas pelo nome dos montes, outeiros, etc., em
que se encontram. Castros, castelos ou cividades foram com certeza
todas as ruínas que visitei nos seguintes montes: — Monte do Espírito
Santo (junto a Vila Nova de Cerveira); — Monte de Góis (Cerveira); —
Picôto de Mouros (parte de Vile, parte de Riba de Âncora); Monte de
Santo Amaro (Riba de Âncora); — Monte de Santo António (Afife); —
Monte Dor (Carreço); — Monte de Santa Luzia (Viana do Castelo); —
MQnte de Roques (perto de Vila de Punhe); — Alto da Ponte (esquerda
do Neiva, defronte do Castelo do mesmo nome); — Monte da Cerca
(Vila Chá, concelho de Barcelos); — Monte de S. Lourenço (idem); —
Monte de Laundos (concelho da Póvoa de Varzim); — Monte de S.
Miguel (Oleiros, concelho de Guimarães); Monte da Senhora (S. Jorge
de Selho); — Monte da Forca (Vila Nova de Sande); — Monte de Santa
Marta (Falperra); — Montez elo (Santa Leocádia de Briteiros); —
Monte de Santiago (Penselo, concelho de Guimarães); — Monte da
S
Freixo, salvo erro); — Monte de S. Domingos (Lousada); — Outeiro
dos Mouros (em Santa Maria de Pedraça, Basto).
Talvez esta enumeração se vá aproximando da “tremebunda
massada”, que o sr. E. N. queria evitar aos seus leitores; mas já
agora, não podemos parar senão no fim da jornada. Mencionarei
portanto as seguintes ruínas, algumas de primeira ordem, e que dão
pelos seguintes nomes: — ~ Coroa do Amonde (únicas ruínas que
entre nós tenho visto com esta denominação); Eira dos Mouros (não
longe do Castelo de Vermoim); — Santa Iria (Louredo, concelho. de
Lanhoso); — Pena Província (defronte de Lanhoso); — Cidade da
Citânia, Citânia menor, que ambas as coisas tenho ouvido chamar ás
ruínas de Paços de Ferreira; — Calcedónia (Gerês); — Carmona
(Carvoeiro); — Freixo (Marco de Canavezes).
Eu ponho de lado a Citânia e Sabroso e os montes, que não
são poucos, onde encontrei vestígios de povoações antigas muito
apagados, tais como Santa Margarida, perto de Roriz; Monte de Santa
Eulália, de Santo Amaro, da Senhora do Monte, nas proximidades de
Guimarães; Chá de Cheios, no Gerez, etc., e, por isso que só dou
conta das estações pré-históricas que vi com os meus próprios olhos,
claro é que excluo todas aquelas que nos noticiam os nossos
antiquários, Carvalho, Argote, Pinho Leal, etc., e igualmente aquelas
que me têm sido indicadas e têm sido vistas por informadores de toda
a confiança1.
Limitando-me apenas ao resultado das minhas investigações
pessoais, vê-se que não é estouvadamente que eu afirmo uma tal ou
qual competência para falar de castros, se é do exame deles que
havemos de deduzir a unidade da velha civilização da Lusitânia.
Dir-se-á que a minha experiência pode autorizar-me a julgar,
1 Se numa Carta geográfica se marcasse com um ponto negro as estações que tenho
visto no Entre-Douro-e-Minho, notar-se-ia talvez que elas são mais abundantes no
litoral, do que para o centro da província. Devo porém dizer que o meu trabalho de
reconhecimento, porque esse o nome próprio, começou pelo litoral, que ainda não
examinei todo. As visitas às estações do interior foram ocasionais e sem método.
No entanto tenho razões para acreditar que a população antiga do nosso país não era
mais densa na beira-mar, que nas outras partes.

com mais ou menos sem-cerimónia, dos castros2 no Entre-Douro-e-
Minho, mas de modo algum nos povos que lhe ficavam ao sul e nos
galegos que lhe ficavam ao norte; porém, quanto à Galiza, além dos
factos que o sr E. N. cita, e que eu podia multiplicar, donde se infere
que os castros da Galiza, até hoje descritos, são irmãos gémeos dos do
Minho, eu examinei também por mim mesmo as ruínas de Santa Tecla,
a sul da Guárdia dois castros na vertente oriental do Monte Tarroso, a
norte daquela povoação; o Monte da Senhora da Guia, sobre a Baía de
Vigo; o Castillo del Castro, de Vigo, para poder escrever, com toda a
consciência, que entre estas ruínas e todas as que tenho visto não há
a menor diferença.
Quanto à região do sul do Douro, examinei alguns castros dos
arredores da Serra da Estrela; ouvi a descrição de muitos outros que
me foram indicados, e, se o acaso não zombou comigo, apresentandome
apenas os castros que tinham com os da Galiza e Minho uma
perfeita analogia, não pode ser taxada de menos razoável a convicção
que me possui de que ninguém achará desde o Mar Cantábrico até aos
Hermínios, pelo menos, outros castros que não sejam um novo
exemplar dos que até hoje tenho examinado.
O que pode agora perguntar-se é se o exame superficial dos
castros, isto é, a inspecção deles, desacompanhada de escavações
mais ou menos minuciosas, é capaz de fornecer provas suficientes a
favor da unidade da civilização entre, os povos que os habitavam. Esta
pergunta pode ser incómoda para aqueles que se colocam no ponto de
vista do sr. E. N., mas a mim não me incomoda nada.
A unidade da civilização nos antigos lusitanos era para mim
um ponto de fé, mesmo antes de pensar nos castros. Quando os
antigos observadores, de cuja experiência. se aproveitou Estrabão, nos
asseguram que os lusitanos, galegos, astures e cantabros, quer dizer,
os povos ocupando a área da Lusitânia antiga3 (2), tinham os mesmos
usos e costumes; quando, em vista da onomástica que nos resta
2 Brevitatis causa darei o nome de castros a todas as nossas estações pré-históricas.
3 Ainda para poupar palavras, tomo a Lusitânia no sentido em que a tomava Estrabão,
remontando a tempos antigos — a zona da Espanha entre o Tejo e o mar da Biscaia.

destes povos, se não pode duvidar de que eles falavam a mesma
língua, como o atesta a analogia e às vezes a identidade dos seus
nomes geográficos, pessoais, etc., e que tinham uma mesma religião,
como o mostram os nomes dos seus deuses próprios (não romanos),
seria para pasmar que eles não possuíssem uma mesma civilização, e
que o exame ou mesmo a exploração minuciosa dos castros viesse
destruir um facto que assenta em bases de tanta solidez. Por isso,
estudando os castros e tentando aqui e ali alguma exploração, o que
eu tinha em mira era conhecer a natureza e extensão dessa civilização
e principalmente a sua origem primária; mas nunca me passou pela
ideia a possibilidade de que a velha doutrina pudesse ser desmentida.,
Desenganado estou, há muito, atenta a quantidade inumerável
dos nossos monumentos arqueológicos, as dificuldades da sua
descoberta4 e os dispêndios das escavações, de que só poderia chegar
ao fim da minha tarefa, sonhada em momentos de entusiasmo
insensato, se tivesse ao meu dispor duas coisas, simplesmente
impossíveis: o elixir de longa vida e a pedra filosofal; mas dos
resultados do trabalho microscópico, que até hoje consegui levar a
cabo, pode ver-se se os castros favorecem ou desfavorecem a opinião
preconcebida com que os estudei, e se a civilização material que eles
acusam é ou não a mesma.
A escolha da posição dos castros e o seu sistema de
fortificações é sempre semelhante. Isto não diz nada. Escolher para
ponto de defesa a coroa de um monte, e dificultar o seu acesso por
meio de fossos e de muralhas, é uma coisa tão naturalmente indicada
e tão vulgar entre os antigos, que não pode ser exclusivo de povo
nenhum. É verdade que as muralhas dos nossos castros são em regra
construídas de pequenas pedras, tendo uma grossura muito certa,
entre sete e oito palmos. Esta particularidade pode ser ainda casual.
Em alguns castros encontram-se ainda restos de calçadas; O
lajeamento delas é sempre semelhante; assentavam-se no solo as
pedras que se achavam à mão, maiores ou mais pequenas, e sempre
como a natureza as dava, e, se uma grande laje acertava de ocupar
4 Parece exageração; mas quem se der a igual trabalho dirá depois se exagero ou não.

algum ponto de traçado do caminho, lá ficava
a laje. Nada mais primitivo.
Onde os castros começam a mostrar particularidades mais
características é nas casas, principalmente nas casas circulares. Não
faltam castos, onde quem quer pode examinar restos de casas
circulares; tais são: Citânia, Sabroso, Castro da Areosa, Monte de
Santa Luzia, Monte de Roques, Carmona, Casto de Alvarelhos, Citânia
de Paços de Ferreira, Cividade de Refojos de Basto, etc., mas na maior
parte deles só uma escavação poderia mostrar que elas não faltam em
nenhum5. Não só a forma das casas circulares, mas o seu aparelho, é
tão semelhante, que se diriam feitas pela mesma mão.
É bom repetir que os castros são avaros das suas relíquias. Em
muitos toda a pedra de construção, que não ficou entranhada no solo,
foi completamente varrida e aproveitada em vedações de terrenos
vizinhos; noutros o mato e a urze esconde tudo. Se o terreno é estéril
ou foi roçado de fresco, ainda que não apareçam vista sinais de
construções, o que aparece infalivelmente são fragmentos de barro. Os
mais salientes, e os menos importantes, são pedaços de telha
romana6, e, não raras vezes, cacos de ânforas, também romanas; mas
a cada passo se apanham outros fragmentos mais miúdos, de pasta
mais grosseira, e que merecem atenção, porque, se são
ornamentados, a sua ornamentação é idêntica à da cerâmica chamada
dos dólmenes, e dominante em Sabroso; se são lisos, tanto pela sua
composição, como pela forma da vasilha, que um resto da asa ou do
bocal deixa adivinhar, encontram sempre similares noutros castros.
É quase um milagre que o esquadrinhador paciente não
encontre nos castros ou nos seus arredores alguma atafona de mão,
5 Em muitos castros, onde nenhuns vestígios de construções se vêem, a existência de
casas circulares tem-me sido atestada por pedreiros que aí têm trabalhado, e por
jornaleiros, que as têm descoberto ao arrancar alguma árvore.
6 Os tijolos, de que fala o sr. E. N. É mais raro encontrar Castros onde eles não
aparecem do que o contrário. Isso porém não prova que as estações, em que esses e
outros restos de indústria romana se descobrem, não sejam pré-romanas. Prova só
que elas continuaram a subsistir depois da conquista romana. O ponto está resolvido
pela comparação das explorações da Citânia e do Sabroso. Neste a influência romana é
nula, naquela evidente; mas o tipo das duas povoações é exactamente o mesmo.

ou inteira, ou partida. Se à destruição dos homens escapou algum
monumento de mais vulto, ele é sempre a confirmação da tese que os
informadores antigos e a onomástica nos obrigaram a aceitar.
Assim o castro de Santo Ovídio (Fafe) deu-me uma das
chamadas estátuas galegas (que mais propriamente deviam ser
chamadas lusitanas), e que, melhor que as suas parentas, nos
reproduz a armadura, que, segundo Estrabão, era característica dos
lusitanos. Em Refojos de Bastos, na vila, encontrei uma outra, que
pertenceu certamente a um castro arruinado e que lhe fica próximo.
O casto de Paços de Ferreira (Citânia) lá conserva uma
inscrição num penedo, mencionando um NIMINID FIDVENEARVM, e eu
creio que estas entidades têm direito a entrar no Panteão dos deuses
célticos (sic) da Lusitânia antiga, como os outros deuses célticos, de
que a epigrafia não dá conta, tanto a norte do Minho, como a sul do
Douro. No mesmo caso está o DEVS DVRBEDICVS, cuja ara
desprezada, felizmente com a inscrição para fora, encontrei na
alvenaria da torre da igreja de Ronfe, entre os castros de S. Miguel
(Oleiros), Castro de Oliveira e Monte da Senhora. No mesmo caso está
o étnico. ONCOBRICENSÉS7, subentendendo uma cidade Oncóbriga,
cujo último componente é vulgar em toda a antiga Lusitânia. No
mesmo caso estão as inscrições achadas na Citânia. Os nomes de
Camalus, Coronerus, Medamus, Aturo, Viriatus, Larus, Caturo, não
desdizem nada dos nomes que nos oferece a epigrafia da Galiza e do
sul do Douro.
Notemos ainda os seguintes factos: o castelo de Vermoim dános
uma grande pedra esculturada. O seu desenho é o
desenvolvimento do mesmíssimo motivo ornamental, que se vê nos
lavores da “pedra formosa” e noutras pedras desenterradas nas
escavações da Citânia e de Sabroso. Na cividade de Âncora foram
achadas algumas pedras do mesmo estilo ornamental, e uma delas é
de imensa importância, por demonstrar a origem pré-romana dos
7 Pode duvidar-se, se falta a primeira letra deste nome.” Creio que não. Para o fim, a
que miramos, a coisa indiferente. A inscrição foi encontrada no castro do Freixo (Marco de Canaveses).

célebres entrelaços irlandeses, com os quais tem incontestável
analogia. Outros espécimes desta curiosa arte pré-romana não devem
faltar nem na Galiza, nem para o sul da província do Minho. Não
aparecem, porque ninguém os procura.
Em Sabroso foi encontrada a cabeça dum animal, dum porco,
parece, e vê-se que ela fazia parte dum corpo que não escapou à
destruição dos montantes, uns sujeitos que desde tempos remotos
tomaram à sua conta a devastação deste castro e de dezenas doutros.
A brutesca figura devia ser de boas dimensões. Figuras idênticas são
conhecidas no norte da Espanha, e devem existir igualmente para o sul
do Douro, domo existem em Trás-os-Montes, porque para nós é de fé
que a célebre porca de Murça e a ursa do pelourinho de Bragança são
monumentos muito mais antigos do que geralmente se crê. Eu cito
estes últimos factos, e podia aumentar a lista, no intuito de mostrar
que há mais razões a favor do que contra, para acreditar que as
explorações dos castros não desmentirão as inferências que o seu
exame superficial e o seu aspecto uniforme sugere ao observador, no
tocante à unidade da civilização entre os povos que os construíram.
Há ainda dois factos genéricos que não posso deixar em
silêncio.
É raro o castro, onde não tenha encontrado as conhecidas
fossettes dos franceses. São pequenas concavidades abertas na
superfície das lajes ou dos penedos e cuidadosamente polidas. Em
geral o seu diâmetro não excede polegada e meia, mas há-as muito
maiores. Aparecem mais vezes em grupos que isoladamente. Os
grupos não exigem número certo. Podem ser encontradas por três ou
por duzentas, porque mais de duzentas contei eu já numa só laje.
Frequentemente, a par destes sinais, encontram-se outros muito
variados: ora uma cavidade tendo a forma duma pegada, não sendo
raro ver duas pegadas a par; ora uma cavidade oblonga, já simples, já
cercada por um ligeiro sulco. Com as covinhas, mas também noutras
partes sem elas, acham-se círculos formados por um traço pouco
profundo. Umas vezes os círculos são simples, e podem ter ou nád ter
o ponto central; outras vezes são dobrados ou tríplices.

Os círculos aparecem quase sempre soltos, mas em Sabroso,
por exemplo, encontram-se ligados por uma linha oblíqua, como em
alguns ornatos de cerâmica pré-romana. Podem também aparecer
isolados ou por grupos. Na Citânia há um grupo de dezoito. As suas
dimensões são variáveis desde três polegadas até meio metro de
diâmetro. Não é raro encontrar covinhas dentro dos círculos em
posições excêntricas. Além das figuras circulares tenho encontrado,
mas raramente, figuras quadradas e outras elipsóides, menos raras
que as segundas. O círculo é às vezes singelo e tem uma linha que do
centro se prolonga para fora da circunferência, terminando nas duas
extremidades por uma covinha. Este sinal é sumamente curioso,
porque, segundo alguns arqueólogos que têm visitado a Índia, ele é
ainda aí usado. Tem o nome de Mahadeu, e relaciona-se com o culto
de Siva.
Isto traz-nos a outra gravura que examinei perto das ruínas do
Monte da Saia, um suástica perfeito, associado com círculos
concêntricos, covinhas e outras figuras já mencionadas acima. É a
única suástica que tenho encontrado gravada em penedos8, mas um
rapaz de Penselo traçou-me no chão um sinal que disse ter encontrado
numa laje da beira cio rio Ave, e que, em vista da cópia, nenhuma
dúvida deixa de ser um suástica tão perfeito como o da Saia. Estes e
outros factos fazem-me crer que esta famosa cruz dos Índios não deve
ser rara entre nós. Também não é rara a espiral ou linha enrolada,
nem a cruz dentro do círculo, idêntica a outras que o sr. Mortillet
reproduz no seu escrito: Le signe de la Croix avant le christianisme. Eu
omito outras gravuras mais complicadas, onde predomina quase
sempre a linha curva.
Se estes sinais são simbólicos, como o pensam alguns sábios,
todos eles pertencem com certeza ao mesmo simbolismo, a julgar pela
sua associação. No Minho são eles vulgares; na Galiza igualmente,
como se pode ver, entre outras, na obra do sr. Sivelo. Não pude
encontrá-los nos castros dos arredores da Serra da Estrela; mas um
homem muito competente nesta matéria, por ter gasto muitos anos à
8 Suásticas de braços curvos, como as de Micenas, aparecem em Sabroso e na Citânia

procura de tesouros encantados, afirmou-me que círculos concêntricos
não faltavam pelos sítios que ele percorrera, levado da sua mania9. A
sua existência para o sul do Douro é tanto mais provável, que eles se
encontram para o sul da Espanha, como o mostra o livro do sr.
Gongora: Anteguedades d’Andalucia.
Diremos de passagem que nos dólmenes do norte da Europa
não são raras gravuras, muito idênticas às dos nossos castros. Esta
observação leva-nos naturalmente ao segundo facto de que atrás
prometemos ocupar-nos.
Com o nome de mamoas são conhecidos na Galiza, no Minho e
para sul do Douro uns certos monumentos a que não é possível hoje
negar o carácter sepulcral. Acontece com as mamoas o mesmo que
com os castros mais se procuram, mais se encontram. Eu escrevi já
que estas sepulturas eram a última morada dos habitantes, dos
castros. Vou repetir e ampliar as, minhas razões.
As mamoas do Vale do Âncora ficam entre o Picoto dos
Mouros, Santo Amaro, Castro de Riba de Âncora, Castro de Mouros e
Cividade de Âncora. Conheço cinco no vale, tendo como certo que a
cultura destruiu muitas outras, e conheço mais seis nos antigos
caminhos, que do vale iam para Azevedo e para Caminha. As mamoas
de Vila Chá (Barcelos), que são oito, ficam algumas muito perto do
Monte da Cerca. As Mamoas de Laundos, sete, ficam próximas do
castro que aí vi. As mamoas de S. Simão da Junqueira, duas (mas
afirmam-me que há mais, que não tive tempo de examinar), ficam
perto do Castelo de Casais. O castro de Sobreposta tem no pequeno
convale, que o separa do Monte de Espinho, sete mamoas, e no
convale oposto, que o separa do Monte de Picos, seis. Ao pé de Pena-
Província, defronte de Lanhoso, há sete. No caminho que do castro de
Santa Iria ia para Sobreposta, e não longe daquela estação, há quatro.
A poucos passos de Sabroso há cinco. Parece-me inútil multiplicar os
exemplos.
Eu creio firmemente que todo aquele que estudar a posição
das mamoas em relação aos castros não pode furtar-se à convicção de
9 Para o povo, estes sinais são sempre dos mouros, e indicam tesouro perto.

que as duas espécies de monumentos estão inteiramente ligadas.
Para mim é isso hoje uma verdade mais sólida do que um
castelo roqueiro, mormente depois que a exploração de diferentes
mamoas me fez ver em algumas pedras, que compunham caixas
tumulares, cobertas por elas, as mesmas covinhas, e nas lajes
próximas as mesmas gravuras, que já tinha observado nos castros, e
depois que elas me forneceram alguns objectos que pude comparar
com os dos castros. Estes objectos são, por via de regra, machadinhas
de pedra e pontas de seta de sílex.
Ainda não pude encontrar nos castros pontas de seta10; mas
as machadinhas que tenho achado nas mamoas não fazem a menor
diferença, nem pela forma, nem pela natureza da rocha, doutras que
recolhi em Sabroso, na Citânia, no Monte da Senhora, no Castelo e em
outros castos.
Eu não sei que em vista disto se possa duvidar um momento
se as mamoas são ou não as sepulturas dos habitantes dos castos.
Não posso porém deixar de mencionar uma circunstância mais. Se a
exploração dos castros mostra que as povoações pré-romanas
continuaram, na sua grande maioria, a subsistir depois da dominação
romana, como o provam os objectos de indústria romana, que aí se
encontram, nomeadamente a telha de rebordo, fragmentos de telha da
mesma qualidade, que tenho achado em mais que uma mamoa,
provam do mesmo modo que estas sepulturas ainda estiveram em uso
depois da conquista dos Romanos.

Guimarães, 20-11-83.
10 Nas explorações de Tróia por Schliemann sucedeu o mesmo. O facto merece notar-se.

Sepulturas Antropomórficas


As sepulturas abertas na rocha, normalmente cobertas por uma tampa ou talvez apenas por terra e pedras, destinavam-se a um ritual de inumação de um corpo que, na maior parte dos casos, não se fazia acompanhar de qualquer tipo de espólio.Cronologicamente a sua maioria insere-se entre finais do séc. IX e meados do séc. XI. Contudo, é globalmente aceite que, e ainda segundo Alberto del Castillo, a sua produção recue ao séc. VII. Quanto à tipologia podem assumir a forma não antropomórfica - ovalada, rectangular com laterais arqueados, trapezoidal - ou antropomórfica com algumas variantes no contorno da cabeceira e de todo o corpo, com ângulos rectos ou arredondados. As mais antigas poderão ser as não antropomórficas, surgindo as antropomórficas nos meados do séc. IX.Algumas apresentam ainda um rebordo lateral impedindo as infiltrações das águas e permitindo um melhor encaixe da tampa de cobertura. A implantação destas sepulturas verifica-se, regra geral, em locais destacados na paisagem sobranceiros a um largo horizonte, outeiros ou grandes afloramentos graníticos, normalmente associados a caminhos antigos. Revelador, por um lado, da não existência do cemitério paroquial e, por outro, o afastamento do espaço urbano, prática comum na civilização romana precedente.A orientação parece não obedecer a um padrão específico, podendo estar na sua génese a orientação canónica (O-E), bem como o local escolhido para a implantação da sepultura, nomeadamente, a inclinação, a fractura ou espaço disponível de um afloramento, ou mesmo o alinhamento com outras sepulturas.O estabelecimento de um quadro evolutivo destes enterramentos tem suscitado aberta polémica entre os medievalistas da Arqueologia, agravada que é pela falta de contexto estratigráfico, pela falta de testemunhos, fruto da violação dos tempos e do Homem a que foram votadas.